Músicas brasileiras em outros idiomas
Desde os primeiros anos da minha vida, a música sempre desempenhou um papel fundamental. Minha mãe, apaixonada por música, alimentava nossa casa com uma variedade de sons, colecionando fitas cassetes e CDs dos seus artistas favoritos. Enquanto isso, meu pai guardava com carinho uma pequena coleção de discos em um baú preto na sala, cada um contando sua própria história sonora.
Desde cedo, também desenvolvi um grande interesse por idiomas. Percebi que podia combinar essa paixão com a música, e foi assim que minha jornada se entrelaçou com o universo dos sons italianos. Minha mãe, sempre atenta aos meus interesses, começou a trazer para casa CDs de renomados músicos italianos, como Laura Pausini, Luciano Bruno e Lucio Dalla.
Ao ouvir algumas músicas desses cantores, ainda me emociono ao lembrar a minha trajetória de aprendizagem de idiomas. Nessas canções estão as primeiras palavras que aprendi de um idioma estrangeiro. Que tal ouvirmos uma agora para entrarmos no clima deste artigo?
Ciao Lucio Dalla C'è stato come un lampo lì proprio in mezzo al cielo che era blu cobalto liscio, liscio senza un pelo la città sotto era un presepio, le luci del tramonto la scia di un aereo, facevano più bello il mondo dello sforzo dei poeti, dei mezzi giornalisti puttane e kosovari, poi altri tipi misti contavano le stelle, le prime ad arrivare poi la voce di una vecchia che salutava tutti quanti dicendo ciao CIAO E' la colpa di non so di chi CIAO E' la colpa di non so di chi CIAO La spiaggia di Riccione, milioni di persone le pance sotto il sole, il gelato e l'ombrellone abbronzati un coglione, non l'hai capito ancora che siamo stati sempre in guerra anche il 15 a Viserba in guerra con noi stessi, tra video e giornali e noi sempre più lessi a farci abbindolare con la nostra indifferenza, la passione per le cose che non possiamo stare senza anche le pericolose come ad esempio una canzone mentre la stai cantando di là qualcuno muore qualcun altro sta nascendo è il gioco della vita la dobbiamo preparare che non ci sfugga dalle dita come la sabbia in riva al mare CIAO E' la colpa di non so di chi CIAO E' la colpa di non so di chi CIAO
Grandes nomes da música brasileira também me acompanhavam: Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Tim Maia, Toquinho… Todos eles ocupavam seus lugares nas prateleiras e em meus ouvidos. As letras de Chico, a música de Tom e a voz de Milton Nascimento me encantavam. Tinha me apaixonado por nossa música e não tinha mais volta.
Um dia, descubro um CD de Toquinho em italiano! Nem acreditei… Eu poderia ter o melhor dos dois mundos: a música brasileira e a língua italiana. Achei aquilo incrível e aproveitei para ouvir o CD diversas vezes, sempre comparando as versões italianas com as originais em português.
Alguns anos mais tarde, quando comecei a acessar a Internet, descobriria que aquilo que ouvi na infância era mais comum que eu imaginava, que diversos artistas brasileiros tinham versões de músicas em idiomas estrangeiros. Desde então, só consigo ouvir música em outro idioma se for música brasileira.
Gostaria de deixar aqui uma sugestão de exercício que, para mim, é extremamente prazeroso. Espero que também o seja para você! Vou disponibilizar versões de músicas brasileiras em outros idiomas e a letra original. O objetivo é comparar as duas, encontrando semelhanças e diferenças.
Em italiano
La Rita
Sergio Bardotti
La Rita è scappata di casa
Ha portato via il mio mondo
Ha portato con sé ciò che è mio di diritto
E che avevo nel cuore per lei
Si è presa i vestiti
Il servizio di piatti
Ma che abuso
Il quadretto di San Francesco
E un bel disco di Caruso
La Rita voleva finirla
Voleva vendicarsi di me
Non ha preso una lira perché non ce l’ho
Ma ha procurato dei danni
Ha preso i miei piani
I miei poveri inganni
E coi miei venti anni
L’amore che fu
E mi ha lasciato
Una chitarra che non canta più’
A Rita
Chico Buarque
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor de vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão
Em inglês
Dindi
Sarah Vaughan
Sky, so vast is the sky, with far away clouds just wandering by
Where do they go? Oh, I don’t know, don’t know
Wind that speaks to the leaves, telling stories that no one believes
Stories of love belong to you and to me
Oh, Dindi, if I only had words I would say all the beautiful
Things that I see when you’re with me, oh, my Dindi
Oh, Dindi, like the song of the wind in the trees, that’s how my heart is
Singing Dindi, happy Dindi, when you’re with me
I love you more each day; yes, I do; yes, I do
I’d let you go away if you take me with you
Don’t you know, Dindi, I’d be running and searching for you
Like a river that can’t find the sea
That would be me without you, my Dindi
Can’t find the sea
That would be me without you, Dindi
Like a river that can’t find the sea
That would be me without you, my Dindi
Dindi
Tom Jobim
Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que seguem ligeiras
Pra onde elas vão?
Ah, eu não sei, não sei
E o vento que fala nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas
E de você também
Ah, Dindi
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria Dindi
Tudo Dindi
Lindo Dindi
Ah, Dindi
Se um dia você for embora
Me leva contigo, Dindi
Fica, Dindi
Escuta, Dindi
E as águas deste rio
Aonde vão? Eu não sei
A minha vida inteira esperei
Esperei por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
Você não existe, Dindi
Olha, Dindi
Escuta, Dindi
Olha, Dindi
Adivinha, Dindi
Em francês
Coeur Vagabond
Bia Krieger
Mon cœur a tant d’espérance
Mon cœur en enfance
Désire et attend l’inconnu
Mon cœur en adolescence
N’est pas que l’absence
D’une ombre incertaine entrevue
Qui traversant mes rêves
Sans un mot d’adieu
A laissé dans mes yeux
L’interminable pluie
Mon cœur est un vagabond
Il veut garder le monde
En lui
Mon cœur est un vagabond
Il garderait le monde
En lui
Coração vagabundo
Caetano Veloso
Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meu sonho sem dizer adeus
E fez dos olhos meus um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
Em espanhol
Te Amo
Chico Buarque
Ah, si ya perdimos noción de la hora
Si juntos el futuro se demora
Cuéntame ahora cómo he de partir
Ah, si cuando te ví, me eché a soñar, fue casi desvarío
Romp con todo, quemé mis navíos
Cuéntame ahora adónde puedo ir
Tú y yo, si en travesuras de noches eternas
Ya confundimos tanto nuestras piernas
Dime con qué piernas debo seguir
Si dejaste derramar nuestra canción
Si en las arenas de tu corazón
Mi sangre erró de vena y se perdió
Cómo, si en el desorden del mueble extendido
Mi pantalón enlaza tu vestido
Y mi zapato al tuyo pisa aún
Cómo, si nos amamos, hechos dos paganos
Tus pechos aún están en mis manos
Dime con qué cara voy a salir
No, pienso que hacer la tonta tú aparentas
Te dí mis ojos a tener en cuenta
Cuéntame ahora como he de partir
Eu Te Amo
Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
Em alemão
Ein Hund, eine Katze une eine Maus
Mary Roos
Ein Hund, eine Katze und eine Maus
Bewohnten zu dritt ein uraltes Haus
Die Katze war Köchin, die Maus kaufte ein
Der Hund, der hielt Wache und ließ keinen herein
Ja, es ging ihnen gut und es wär so geblieben
Doch wenn’s einem zu gut geht, ist man selten zufrieden
Es dachte der Hund, warum soll ich hier wachen I
Ch kann mit meiner Zeit etwas besseres machen
Und er ging zu den andern und sagte zu ihnen
Ich will euch nicht länger als Wachhund mehr dienen
D’rauf sagte die Katze, dann koch ich nicht mehr
Und die Maus sprach, ich richte das Haus nicht mehr her
Ein Hund, eine Katze und eine Maus
Gerieten in Streit, es bebte das Haus
Die Katze, die jagte der Maus hinterher
Der Hund aber hetzte die Katze noch mehr
Und es fiel alles um, es ging alles in Scherben
Und allmählich begannen sie hungrig zu werden
Durch die Tür zog der Wind, durch das Dach fiel der Regen
Doch sie waren zu stolz um Frieden zu geben
Sie fauchten sich an und jagten sich weiter
Den Lärm hörte bald schon ein Straßenarbeiter
Ja, und mit einem Stock kam er dann in das Haus
Und dann trieb er die drei auf die Strasse heraus
Ein Hund, eine Katze und eine Maus
Die nahmen sich vor, wir lernen daraus
Die Maus geht zum Krämer, die Katze backt Brot
Der Hund, der hält Wache, vorbei ist die Not
Lalalalala…
Ein Hund, eine Katze und eine Maus… Aus!
Águas de março
Tom Jobim
É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento vetando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terça
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
E então? O que achou das músicas? Conseguiu comparar as duas versões? Deixe o seu comentário!
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